Segundo pesquisa da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), o cérebro de uma pessoa idosa é mais flexível do que se acredita.
Londres – Um grupo de cientistas criou um videogame capaz de medir e reparar a deterioração neuronal relacionada ao envelhecimento, informou nesta quarta-feira a revista científica britânica “Nature”.
Segundo esta pesquisa da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), o cérebro de uma pessoa idosa é mais flexível do que se acredita, e com um treinamento concreto é possível evitar que aptidões como a atenção, a memória e a capacidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo diminuam com a idade.
Para comprovar a hipótese, os cientistas pediram que um grupo de especialistas em tecnologia e entretenimento projetasse um jogo de corrida, que recebeu o nome de “NeuroRacer”, no qual o jogador poderia ter uma única tarefa ou várias ao mesmo tempo.
“Uma das condições do videogame foi que os jogadores estivessem expostos a distrações durante as partidas para analisar sua atenção e sua capacidade de realizar múltiplas tarefas”, explicou em entrevista coletiva Adam Gazzaley, chefe do projeto.
Após testar o jogo com um grupo de pessoas entre 20 e 79 anos, os pesquisadores concluíram que os participantes de mais idade tinham mais dificuldades para superar a versão com várias tarefas simultâneas.
Posteriormente, eles centraram a avaliação em pessoas entre 60 e 85 anos, e as dividiram em diversos grupos para que jogassem versões diferentes do “NeuroRacer” três horas por semana durante um mês.
Assim, os cientistas conseguiram comprovar que o grupo que jogou a versão multitarefas do “NeuroRacer” melhorou sua capacidade de desempenhar duas funções simultâneas que demandam atenção.
Após seis meses de treinamento contínuo, os idosos não só melhoraram essa capacidade, mas também chegaram a superar os resultados dos jovens de 20 anos que não tinham treinado dessa forma.
“Eu gosto da ideia de que seja possível intervir no processo de envelhecimento das pessoas, e que os mais velhos possam melhorar suas capacidades cognitivas jogando”, disse Gazzaley.
Para demonstrar seus resultados, a equipe de cientistas da Califórnia também mediu a atividade cerebral dos participantes através de eletroencefalogramas, tanto antes como depois dos treinos.
“O jogo provocou mudanças no cérebro”, declarou o cientista em referência à maior atividade que se registrou nas ondas “theta” do cérebro dos participantes, associadas à memória plástica e à capacidade de aprendizagem.
Segundo o pesquisador da Califórnia, o treino contínuo com o “NeuroRacer” também trouxe melhoras para a memória de trabalho e para a atenção dos idosos.
“Esta é uma prova importante que confirma o que se pode conseguir com estes tratamentos, como diagnosticar deficiências neuronais e melhorar as capacidades cognitivas do cérebro”, acrescentou o chefe do projeto.
Embora Gazzaley reconheça que ainda há muito trabalho pela frente, já foram iniciadas novas pesquisas, também com videogames, para estudar este tipo de tratamentos em jovens e crianças.