Hector Garcia Jr. queria ser piloto de caça quando era pequeno. Em seu quarto, assistia a filmes, brincava com miniaturas e imaginava como seria a adrenalina de viver pilotando. Mas não foi bem assim que aconteceu. Aos seis anos já era considerado o mais gordinho da turma, na adolescência foi ridicularizado e durante a vida adulta lutou, mas não como gostaria. O inimigo, seu próprio peso, o fez sofrer em batalhas que duraram toda uma vida. A repórter Jessica Belasco e a fotógrafa Lisa Krantz, do jornal Express-News, acompanharam a difícil vida de Garcia durante quatro anos, o que resultou em uma impactante série fotográfica, que mostra o lado da obesidade que poucos enxergam.
288 quilos. Este foi o peso máximo a que Garcia chegou. A obesidade mórbida foi fruto de uma série de fatores, a começar por sua mãe, Elena Garcia. Casada aos 14 anos, ela mal sabia preparar as refeições de seus seis filhos e acabava usando e abusando de produtos industrializados, sem ter consciência sobre os valores nutricionais do que consumiam. A tendência genética à obesidade também contribuiu e a depressão que veio com a rejeição na adolescência transformou a doença de Garcia em um efeito bola de neve. “A comida não me rejeitava, a comida nunca me falava nada, nunca falava nada de ruim para mim, então eu me confortava ao comer“, afirmava o menino.
Aos 30 anos, ele tentou fazer uma cirurgia de redução de estômago, esperando ter seu problema resolvido. A operação fez com que ele perdesse quase 100 quilos, mas não foi suficiente para combater o “efeito sanfona”. Todo o peso voltou e, anos depois, ele precisou ser submetido a outra cirurgia, desta vez para recuperar os joelhos, danificados pelo excesso de peso. O procedimento fez com que ele perdesse peso novamente, mas em pouco tempo, tudo voltou como era antes. “Ele veio ao mundo com a sorte contra ele. Se você pegasse esse mesmo indivíduo e o colocasse no Afeganistão ou no Iraque, ele provavelmente seria uma das pessoas mais gordinhas por lá, mas eles não têm o acesso a comida, eles não têm campanhas de marketing multimilionárias que o levaram a pesar 200 kg“, explicou o psicólogo e diretor do Centro de Peso e Doenças de Alimentação da Universidade da Pensilvânia, Thomas Wadden.
Garcia viveu toda a sua vida na casa dos pais, não conseguiu ser o piloto de caça que gostaria, ter filhos ou se casar. A batalha contra a obesidade o tornou depressivo, dependente e infeliz. “É difícil lutar pela vida quando eu sinto que minha vida não é uma vida. É existência. Existência não é o suficiente para mim“, disse.